1. |
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"(...) ah, aí é que vamos! é ser variadíssimas coisas ao mesmo tempo e, por vezes, coisas que parecem contraditórias. (...) é ser, ao máximo, plenamente, aquilo que nasceu e que marca a sua individualidade. aqueles marinheiros que foram a Calicute, assim que tocam a ilha que a Deusa lhes plantou diante, pulam para ela, e não são mais marinheiros, nem artilheiros, nem capitães, nem coisa nenhuma! eles são aquilo que eram. e como eram (...), nessa altura, com a nossa cabeça inteiramente livre e límpida, nós podemos ouvir aquilo que o Camões chama: a voz da Deusa."
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2. |
Aquém
04:17
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custas-me o sonho em flor
eu sei que é mau
mas mau é não amar
e à luz da noite que sou em ti
ajudo-te a matar
lembras-me alguém
ficas-lhe aquém
mas fica um pouco mais
que enquanto sabe bem
é deixar morrer
só deixar morrer
como dar sem crer
sabes-me a saudade
e perco-me a sonhar
vou mudar de vida
e o que vai mudar?
ficas-me bem
fazes-me bem
mas vendo bem
o tempo vai mudar
e sei que sem querer
vou deixar morrer
só deixar morrer
que deixar morrer
é quase razão de ser
soube-te bem
nunca tão bem
e fica-me bem
deixar morrer
deixa morrer
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3. |
Caim
05:24
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juras de amor dormem à mesa
trepam-se os olhos
que já choram de fingir
tanta mentira só custa a quem sabe mentir
já te ouvi dizer — rima com porco
cuja vil boca não tem lar
e em cada dente cabe um corpo
dono de um nome tão vulgar
deixa-me então partir
já sou eu quem não quer dar
chega de destruir
deixa-me então partir
às tantas eu quero estar
só como sempre quis
se vais sair, deixa-me a chave
poupa-me a dor
de aguardar que vás voltar
e se voltares, avisa pois eu posso estar
com alguém melhor — rima com porco
cuja vil boca não tem lar
e em cada dente cabe um corpo
dono de um nome tão vulgar
chama-me então Caim
já sou eu quem não quer dar
não sei quem mora aqui
deixa-me então partir (se)
às tantas eu quero estar
só como sempre quis
triste é findar por ti
triste é findar por ti
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4. |
Mais
04:00
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hoje ouvi dizer que vais cantar
talvez pudesse ir sentir saudade
e acabo noutro cais, vendendo-me por fé
e a noite vira febre de alto mar
vim, porquê ficar até ao fim
já ontem nós brindámos à saudade
vi paixão em ti e quis colher em mim
todo o caos foi sede de perder
e quero mais, nem sei o quê
se me despertas, quero mais
só quero mais, nem sei porquê
já tinha tudo (o que quis)
nunca é demais
se me despertas, será que chegas?
sempre ouvi dizer que a bem do mal
tudo é nada menos além mar
e durmo ou não e nada é sonhar
então, se sonho, o medo é meu mal
ter será um dia ter um fim
já ontem nós brindámos à saudade
vi paixão em mim e quis colher em ti
hoje sonho sede de viver
de perda e cobiça na cova do dente
escravo que trabalha recebe como gente
faz várias funções, é máquina competente
comprou outra máquina e está quase contente
não escolhe o sexo mas escolhe a cor
será filha vaidosa ou filho doutor?
pois seja o que for mas à imagem de sua dor
calha-lhe um doente que se mata por amor
mas quero mais, nem sei porquê
se me despertas, quero mais
só quero mais, nem sei o quê
já tinha tudo (o que quis)
nunca é demais
se me desperta, será que chega?
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5. |
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shhh, shhh (espuma), shhh (...) riso.
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6. |
Afonia
03:44
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foi como em tempo de afonia
queria dar e pouco ou nada me saía
não quis matar
vão contratempo, fui mentira
só eu queria não deixar morrer a vida
que tentei deixar morrer
quem diria
acordei e quis chover
mas não há nada por nascer
é pensar que o mar venceu por cá
e só me resta talvez cavar
é contar que é bom viver a quem já viveu
e quem já viveu?
é contar que é bom viver a quem já viveu
e quem já viveu?
ela gostava de me observar enquanto brincava com a mão entre as pernas
e fumava cigarros que roubava da avó,
depois era a vez dela e ela sabia o que fazia,
nem lhe tremiam as mãos enquanto cortava e sorria
éramos pequenos e adorávamos brincar aos monstros marinhos
a banheira era o nosso mar, mergulhávamos e desaparecíamos
na água negra de cabelos para emergirmos num rugido
o meu coração corria na espera, ela vaidosa e eu vencido
e um dia, de mãos dados, abraçámo-nos para um beijo
e o mar negro transbordou, estendendo-se de desejo
e ela sorriu e mordeu os lábios e, quando bateram à porta,
nós rimos como perdidos pois jamais morreríamos
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7. |
Deusa
04:16
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sair da prisão e voltar a matar
é parte de mim que não consigo deixar
quando estou dentro não quero sair (mas)
há festa lá fora e não me mata espreitar
não tem como não olhar
não tem como não sorrir
não tem como não ficar
não tem como não sentir
podias ser tu o meu fim
podias ser tu o meu fim
deusa, és mais que amanhecer
deusa é pouco
saí da prisão e voltei a matar
agora cá fora já não quero voltar
tranco-me à chave para me acalmar
tomara a vontade não ser vento e mar
não tem como não pensar
não tem como não sair
não tem como não amar
não tem como desistir
pareces-me tu o meu fim
podias ser tu o meu fim
deusa, eu quis acreditar
deusa é pouco
deusa, se matar é honrar
assim honro o teu fim
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8. |
Canção
08:44
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podia dar-te a provar do mesmo
afogar-te em silêncio, até um dia te cantar
há tanto tempo que afago este medo
e agora entendo: vou-me encontrar em alto mar
acordámos que é bom dizer
e bastava uma cama
acordámos mas já sem crer (querer)
acordámos um dia fugir
e faltou a coragem
acordámos e deixei-te ir
nem eu sabia o preço
podia dar-te a provar do mesmo
enterrar-te em segredo, até um dia tropeçar
e acreditar que por todo este tempo
eu tenho sido quem era
se não cortar cresce além
e é tão fácil deixar crescer
se é esta a tua canção
serve para deixar morrer
acordámos que é bom doer
e bastava um abraço
acordámos mas já sem crer
acordámos jamais omitir
e faltou a coragem
acordámos que tudo tem fim
mas ainda penso em ti
acordámos que é bom dizer
e bastava uma cama
acordámos mas já sem crer
acordámos jamais omitir
e faltou a coragem
acordámos que tudo tem fim
mas ainda penso em ti
até encontrarmos quem não nos faça pensar um no outro: acorda, (que)
até encontrarmos alguém que nos faça pensar um no outro: acordo(a)
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DEUSA Lisbon, Portugal
DEUSA é uma banda de rock portuguesa, nascida e criada em Lisboa, 2017. Estreou-se em 2020, com o seu álbum homónimo e “singles tão distintos e orelhudos quanto as músicas do encore de um concerto jamais esperado e esquecido.” É formada por João Rocha Afonso (vocalista e letrista), Henrique Carvalhal (guitarra), António Carvalhal (bateria), Pedro Jónatas (baixo) e Bernardo Cruz (teclados). ... more
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